O Moitará, Grupo de Pesquisa de Direitos Étnicos da Universidade de
Brasília (Unb), se associa à nota emitida pelo Núcleo de Estudos de Povos
Indígenas (NEPI) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e externa o
mais profundo pesar pela perda brusca e violenta do professor indígena
Laklãnõ-Xokleng, Marcondes Namblá, assassinado no último dia 2 de janeiro,
enquanto fazia trabalho temporário em Penha/SC.
Confira à íntegra na nota:
Nota de pesar, Nota por justiça
O Núcleo de Estudos de Povos Indígenas (NEPI) da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC) vem a público expressar o profundo pesar e a
extrema necessidade de justiça frente ao assassinato cruel sofrido pelo
professor indígena Laklãnõ-Xokleng, Marcondes Namblá. Marcondes foi morto
enquanto fazia trabalho temporário em Penha-SC, vendendo picolé neste período
de férias turísticas no litoral do estado. Foi espancado na cabeça até cair
desacordado, foi resgatado pelos bombeiros, levado ao hospital, passou por três
cirurgias e não resistiu.
Marcondes
era egresso da UFSC, formado pelo Curso de Licenciatura Intercultural Indígena
do Sul da Mata Atlântica, fazia parte de uma geração que vislumbrou na
Universidade um lugar para compreender melhor as dinâmicas políticas,
econômicas e sociais que ao longo da história atingiram seu povo de forma
injusta e sangrenta. O povo Laklãnõ-Xokleng vem Resistindo aos efeitos muitas
vezes perversos do embate com o Estado e Marcondes descobriu que poderia
compreender tais dinâmicas estudando as crianças de seu povo, dialogando com a
Antropologia, a História e a Linguística.
Mostrou que
a Barragem Norte, que dividiu a Terra Indígena Laklãnõ, transformou o cotidiano
das crianças, limitando o banho de rio e as brincadeiras que eram desenvolvidas
na água. Mais ainda: estas brincadeiras mobilizavam vocabulários específicos,
na língua nativa, que deixavam de ser utilizados pelas crianças, uma vez que as
mesmas viam-se impedidas de brincar em determinadas partes do rio.
Como professor
e liderança em sua comunidade, preocupava-se com a língua materna, com
processos de circulação de saberes e com as dimensões identitárias que eram
configuradas pelo território. Tinha planos de seguir os estudos em nível de
Mestrado, tinha posicionamentos claros quanto ao lugar da escola na formação
das crianças e jovens de sua Terra Indígena, tinha projetos ligados à
revitalização da língua Laklãnõ-Xokleng, tinha a intenção de ter uma renda
extra neste verão... Tinha tudo isso quando saiu na rua, foi abordado e
brutalmente assassinado!
A nós
restou a revolta de ter de aceitar a notícia de que vidas indígenas são
interrompidas em qualquer esquina, como se algum outro ser humano tivesse o
direito de fazer isto... Não tem! Em dezembro de 2015, o menino Vitor, da etnia
Kaingang, foi assassinado na rodoviária de Imbituba, litoral catarinense, no
colo de sua mãe. A Terra Indígena de Morro dos Cavalos vem sofrendo ataques
consecutivos, violentos, os quais deixam marcas físicas, como uma mão decepada,
e psicológicas, tal qual o medo que não vai embora. A violência aos povos
indígenas é sistemática, diária, individual e coletiva.
Registramos aqui nossa tristeza, nossa indignação, nossa perda, mas
sobretudo, nosso desejo de justiça.”
Grupo Moitará
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