quinta-feira, 13 de junho de 2019

COLÓQUIO USP: Lideranças indígenas compartilharam experiências vivenciadas fora de suas aldeias


Otávio Rodrigues, coordenador da área do Direito da Capes; Fernando Scaff, diretor da FDUSP; Samuel Barbosa, professor da USP; Ela Wiecko, professora da UnB e Edson Damas, professor da UERR, na abertura do Colóquio.

Por Cláudia Cavalcante
São Paulo - Em: 06/06/19 


Tiago Guarani, do Pico do Jaraguá, SP.
“É a primeira vez que participo de uma mesa só com lideranças indígenas conduzindo os debates sem a interferência de um diruá [homem branco] falando pelo povo indígena como a gente teve aqui”. Assim definiu Tiago Guarani, indígena do Pico do Jaraguá, em São Paulo, e um dos palestrantes, acerca do formato do Colóquio: “Lugar de índio também é na cidade”.

Esse foi o sentimento que permeou os debates do evento durante os dias 6, 7 e 8 de junho em São Paulo. Tiago Guarani também ressaltou que há muitos antropólogos, sociólogos e até mesmo indigenistas falando sobre o modo de vida dos indígenas. “Nós, índios, temos ficado de fora desse debate, que a meu ver não deixa de ser uma forma de tutela. O colóquio nos trouxe algo que pra mim é novo, o empoderamento dos indígenas. Somos pessoas que têm sentidos e sentimentos, crenças religiosas e costumes que precisam ser respeitados”, pontuou.

Além dos Guarani, participaram efetivamente dos debates nas mesas de trabalho os indígenas das etnias Ingaricó e Wai Wai, de Roraima; Pataxó, de Minas Gerais e Pataxó, da Bahia; Fulni-ô, de Pernambuco; Guarani, de São Paulo, e Guajajara, do Maranhão, ocasião em que debateram os desafios da implementação de uma educação intercultural indígena, questões de acesso à justiça, racismo institucional e municipalização da saúde indígena.

Ao final dos debates a coordenadora do Grupo Moitará e professora de Direito da UnB, Ela Wiecko, ressaltou estar convicta de que a interferência do poder estatal junto aos povos originários tem lhes gerado danos. “Devemos intervir o menos possível nas comunidades indígenas. Todas as vezes que o Estado intervém traz conflitos e problemas”.

“É preciso respeitar a autonomia dos povos indígenas. Quando se fala em educação e saúde, por exemplo,[indígena] é sempre um apêndice com duas realidades distintas onde sempre prepondera a nossa visão, a visão dos não índios e isso precisa mudar. Eles possuem estruturas diferentes de gerir seus sistemas, inclusive o de Justiça. É necessário estimular, permitir que os indígenas assumam seu protagonismo nas mais diversas áreas, dando-lhes espaço e visibilidade para se fazerem presentes”, finalizou a coordenadora do Moitará ao comentar o formato dos debates e a importância do índio ocupar seu espaço nas cidades.

No encerramento do Colóquio Dilson Ingarigó, indígena de RR,
realizou uma dinâmica de grupo para abençoar..
Colóquio - O evento, organizado pelo Grupo de Pesquisa em Direitos Étnicos da Universidade de  Brasília (Grupo Moitará), pelo Projeto de Cultura e Extensão Saju/Tuíra da Faculdade de Direito da USP (FDUSP) e pelo Grupo de Pesquisa de Direito Indígena da Universidade Estadual de Roraima (UERR), contou com a participação de lideranças indígenas, membros do Ministério Público e da magistratura Estadual e Federal, professores e acadêmicos de pós-graduação e teve como foco principal ouvir indígenas que saíram de suas aldeias rumo a cidade, para compreender o que significa essa experiência para eles e comunidades e povos a que pertencem.

A iniciativa de realização conjunta do colóquio foi pactuada em Roraima, em 2018, após o Encontro Nacional “Entre a Mobilidade e as Fronteiras”, promovido pelo Grupo Moitará, em parceria com a UERR. O colóquio objetivou conhecer de perto o cenário atual das comunidades indígenas brasileiras, promovendo o intercâmbio de experiências.  

A conferência de abertura foi proferida por Sônia Guajajara, da Terra Indígena Araribóia, localizada no Estado do Maranhão, que compartilhou com os presentes os desafios e batalhas enfrentadas pelas minorias no Brasil diante do cenário político atual. 

Visita Técnica - Durante a programação do colóquio os participantes também realizaram uma visita
técnica à Aldeia Kalipety na Terra Indígena Tenonde Porã, com extensão aproximada de 1.500 hectares, e fica situada no extremo sul do município de São Paulo, abrangendo partes dos municípios de Mongaguá, São Bernardo do Campo e São Vicente, onde habitam cerca de 1.500 Guarani. Esta é a terra indígena com maior população Guarani Mbyá no Brasil.



Grupo Moitará UnB
e-mail: moitaraunb@gmail.com