Por Cláudia Cavalcante
São Paulo - Em: 06/06/19
“É a primeira vez que participo de uma mesa só com lideranças indígenas conduzindo os debates sem a interferência de um diruá [homem branco] falando pelo povo indígena como a gente teve aqui”. Assim definiu Tiago Guarani, indígena do Pico do Jaraguá, em São Paulo, e um dos palestrantes, acerca do formato do Colóquio: “Lugar de índio também é na cidade”.
São Paulo - Em: 06/06/19
Tiago Guarani, do Pico do Jaraguá, SP. |
Esse foi o sentimento que permeou os debates do evento durante os dias 6, 7 e 8 de junho em São Paulo. Tiago Guarani também ressaltou que há muitos antropólogos, sociólogos e até mesmo indigenistas falando sobre o modo de vida dos indígenas. “Nós, índios, temos ficado de fora desse debate, que a meu ver não deixa de ser uma forma de tutela. O colóquio nos trouxe algo que pra mim é novo, o empoderamento dos indígenas. Somos pessoas que têm sentidos e sentimentos, crenças religiosas e costumes que precisam ser respeitados”, pontuou.
Além dos Guarani, participaram efetivamente dos debates nas mesas de trabalho os indígenas das etnias Ingaricó e Wai Wai, de Roraima; Pataxó, de Minas Gerais e Pataxó, da Bahia; Fulni-ô, de Pernambuco; Guarani, de São Paulo, e Guajajara, do Maranhão, ocasião em que debateram os desafios da implementação de uma educação intercultural indígena, questões de acesso à justiça, racismo institucional e municipalização da saúde indígena.
Ao final dos debates a coordenadora do Grupo Moitará e professora de Direito da UnB, Ela Wiecko, ressaltou estar convicta de que a interferência do poder estatal junto aos povos originários tem lhes gerado danos. “Devemos intervir o menos possível nas comunidades indígenas. Todas as vezes que o Estado intervém traz conflitos e problemas”.
“É preciso respeitar a autonomia dos povos indígenas. Quando se fala em educação e saúde, por exemplo,[indígena] é sempre um apêndice com duas realidades distintas onde sempre prepondera a nossa visão, a visão dos não índios e isso precisa mudar. Eles possuem estruturas diferentes de gerir seus sistemas, inclusive o de Justiça. É necessário estimular, permitir que os indígenas assumam seu protagonismo nas mais diversas áreas, dando-lhes espaço e visibilidade para se fazerem presentes”, finalizou a coordenadora do Moitará ao comentar o formato dos debates e a importância do índio ocupar seu espaço nas cidades.
No encerramento do Colóquio Dilson Ingarigó, indígena de RR, realizou uma dinâmica de grupo para abençoar.. |
A iniciativa de realização conjunta do colóquio foi pactuada em Roraima, em 2018, após o Encontro Nacional “Entre a Mobilidade e as Fronteiras”, promovido pelo Grupo Moitará, em parceria com a UERR. O colóquio objetivou conhecer de perto o cenário atual das comunidades indígenas brasileiras, promovendo o intercâmbio de experiências.
A conferência de abertura foi proferida por Sônia Guajajara, da Terra Indígena Araribóia, localizada no Estado do Maranhão, que compartilhou com os presentes os desafios e batalhas enfrentadas pelas minorias no Brasil diante do cenário político atual.
técnica à Aldeia Kalipety na Terra Indígena Tenonde Porã, com extensão aproximada de 1.500 hectares, e fica situada no extremo sul do município de São Paulo, abrangendo partes dos municípios de Mongaguá, São Bernardo do Campo e São Vicente, onde habitam cerca de 1.500 Guarani. Esta é a terra indígena com maior população Guarani Mbyá no Brasil.
Grupo Moitará UnB
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