sexta-feira, 16 de agosto de 2019

A HOMOSSEXUALIDADE INDÍGENA

por Cláudia Cavalcante
de Boa Vista/RRR -  22h53min


Indígena Yakunã Tuxá compartilha,
experiência de sua sexualidade. Foto: CCS
A tríade mulher, indígena e homossexual marca a trajetória da jovem de 25 anos, Yakunã Eduarda Tuxá, indígena do povo Tuxá, do estado da Bahia, que traz consigo histórias de superação, “decolonização” e desafios. Termos que ela utiliza para falar sobre a urgência que requer a pauta LGBT para os indígenas no Brasil.

O assunto foi tema da mesa “A sexualidade indígena”, durante a programação do IV Seminário Psicologia, Povos Indígenas e Direitos Humanos da Região Norte, promovido pelo Conselho Federal de Psicologia - Região 20.

A abordagem da temática foi conduzida pela indígena Yakunã Tuxá,  sob a mediação da antropóloga da Universidade Federal de Roraima (UFRR) cedida à Universidade de Brasília (UnB), Elaine Moreira.

O evento ocorreu no auditório da Escola de Aplicação da UFRR, campus Paricarana, e contou com a participação efetiva de indígenas de diversas regiões e etnias do Brasil e da Venezuela, entre eles Ailton Krenak, líder que influenciou a inclusão de um capítulo na Constituição de 1988 sobre a proteção dos direitos dos indígenas, além das lideranças locais: Jaider Esbell, artista plástico da etnia Macuxi; Dilson Ingarikó, do povo Ingarikó, e Dário Kopenawa, da etnia Yanomami.

Foram dois dias de intensos debates acerca da temática que teve como ponto alto a atuação da psicologia junto aos povos indígenas.

“Vir a Roraima para participar desse evento e trazer a minha experiência de vida é muito gratificante. Em especial, pelo fato de vivermos em um sistema patriarcal e racista, que pune todos os corpos que são dissidentes e que fogem do padrão heteronormativo. Mostrar para as pessoas como eu consegui me entender enquanto LGBT e ainda assim estar junto do meu povo e me sentir pertencente a cultura da minha aldeia pode ajudar muitos jovens indígenas a superar a barreira do preconceito”, afirmou.

Yakunã revelou que se descobriu homossexual aos 14 anos e que para superar o preconceito e vencer a homofobia na sua aldeia foi preciso voltar ao passado, às origens, estudar e entender o processo histórico de seu povo.

Sobre o discurso de ódio ao corpo dos sujeitos LGBTs, a palestrante indígena relatou que essa prática não é de seu povo. “Quando eles chegaram aqui, os homens brancos, nós usávamos nosso corpo a nosso modo, não existia homofobia, eles que trouxeram isso, e os Tuxá, por influência, reproduziram”.

Ainda conforme Yekunã, com o processo de colonização sobre seus corpos também avançaram os ideais de religião e racismo como forma de controle de seu povo, fomentando a violência. “Essa violência é muito pesada, a média de vida de um jovem indígena LGBT é de 30 anos”, lamentou.

Yakunã destacou que a decisão de compartilhar sua experiência de vida surgiu diante da necessidade de promover a “decolonização” da sexualidade para que os indígenas LGBTs não se sintam tão sozinhos nessa caminhada dentro de seu próprio território, ou até mesmo fora dele.

“O indígena não precisa deixar sua aldeia e ir à cidade em razão da sua sexualidade. Na cidade temos outros tipos de violência. Tenho feito disso a minha bandeira, ocupando, sempre que possível, os espaços de debate sobre o tema, que ainda é muito invisibilizado. Quando surge a oportunidade de falar da pauta indígena LGBT, acho importante expor minha trajetória e dizer: ‘a gente está aqui, você não está sozinho’”, finalizou.

Elaine Moreira durante mediação
dos debates. Foto: Dilson Ingarikó
Para a antropóloga Elaine Moreira, a abordagem dessa temática é urgente e necessária, pontuando que não dá para fechar os olhos, posto que há muitos relatos de suicídios de indígenas em razão do preconceito sofrido. "A abordagem do problema no universo acadêmico fortalece a luta LGTB dentro da minoria etno indígena", finalizou.





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