quarta-feira, 25 de setembro de 2019

CÚPULA DO CLIMA:

Aluna do Jusdiv é destaque na abertura de evento na ONU 

Cláudia Cavalcante
às 22h19

 

 Na esquerda, a brasileira Paloma Costa, ao lado da
adolescente sueca, Greta Thunberg, durante a abertura do evento.
(foto: arquivo pessoal)
A estudante de Direito e integrante do Projeto de Extensão “Escritório Jurídico para a Diversidade Étnica e Cultural (JUSDIV), vinculado ao Grupo de Pesquisa de Direitos Étnicos (MOITARÁ), da Universidade de Brasília, Paloma Costa Oliveira, 27 anos, foi um dos grandes destaques da Cúpula do Clima da Organização das Nações Unidas(ONU), em Nova York, no último dia 23, durante a conferência de abertura.

A brasileira, que participou do evento por sua ligação com a ONG Engajamundo, o projeto Ciclimáticos e o Instituto Socioambiental, foi convidada pelo secretário-geral da ONU, Antonio Guterrez, a compor a bancada de jovens, junto com a adolescente sueca Greta Thunberg, uma das articuladoras das greves estudantis pelo clima.

O evento foi realizado às vésperas da Assembleia Geral da ONU, que aconteceu na última terça-feira, 24, com o objetivo de chamar a atenção dos líderes mundiais para o tema.

Em uma participação inédita, Paloma Costa foi taxativa ao afirmar que o Brasil não pode mais perder tempo discutindo se as mudanças climáticas existem ou não. “Eu venho testemunhando como comunidades indígenas e tradicionais e outros grupos minoritários sofrem o impacto da crise climática” rechaçou.
Paloma Costa, em Nova York.
(foto: arquivo pessoal)

Sobre as queimadas na Amazônia, a jovem brasileira foi enfática ao destacar a necessária e urgente união de esforços para enfrentar os problemas. “Eu vi o mundo rezando por nossas florestas e vi nossos povos indígenas lutando pela sobrevivência. Nós não precisamos de orações, nós precisamos de ação. E a reação que vemos não é suficiente. Então eu me pergunto: precisamos ver a Amazônia em chamas para começar a fazer alguma coisa? Eu acho que não”.

“Minha demanda não é uma mera declaração simbólica, mas um compromisso genuíno com o meio ambiente e com os povos originários e tradicionais, que o protegeram por séculos e que ainda são oprimidos. Eu continuarei a informar a juventude, a defender os direitos humanos e ambientais, a ouvir os jovens e os povos indígenas, para construir a agenda do clima no Brasil sem desculpas”, finalizou.

Confira a íntegra do discurso de Paloma Costa no UN Climate Action Summit 2019

“Obrigado, senhor Secretário-Geral.

Meu nome é Paloma Costa, e eu sou do Brasil.

Eu sou uma socioambientalista, cicloativista, educadora do clima e mobilizadora da juventude. Eu venho testemunhando como comunidades indígenas e tradicionais e outros grupos minoritários sofrem o impacto da crise climática.

Um grande líder indígena do Brasil disse recentemente que os povos indígenas têm resistido desde o início. E quanto a nós? Estaremos aptos a resistir? Bem, a juventude está mobilizada, nós não vamos trabalhar com indústrias que desmatam, nós não ficaremos em silêncio. Já mudamos nossos hábitos, e vocês não estão nos acompanhando. Os povos indígenas possuem tanto conhecimento e conexão com nossa Terra, e nós ainda não damos ouvidos a eles. Eles se unem para proteger sua terra, por que não podemos fazer a mesma coisa e proteger nosso lar?

Nas últimas semanas, o mundo viu com horror as chamas consumirem a Amazônia. Eu vi o mundo

rezando por nossas florestas e vi nossos povos indígenas lutando pela sobrevivência. Nós não precisamos de orações, nós precisamos de ação. E a reação que vemos não é suficiente. Então eu me pergunto: precisamos ver a Amazônia em chamas para começar a fazer alguma coisa? Eu acho que não. Desde minha primeira greve pelo clima com a Greta, na COP 24, meio bilhão de árvores foram destruídas na Amazônia. As pessoas ainda me perguntam se eu tenho medo de defender o meio ambiente, porque defensores ambientais vivem em grande perigo. Bem, eu não tenho! Tenho medo de morrer por causa da crise climática.

Estamos vivendo uma emergência climática que está afetando nossa segurança alimentar, nossa saúde e nossas vidas. E nós temos as soluções para resiliência e para mitigação. Nós vivemos em um mundo dividido, enquanto temos aqui as melhores mentes ainda há pessoas fora daqui, e aqui dentro, se perguntando se a crise climática é real ou não.

Bem, é. O próprio Secretário-Geral lançou um desafio ao mundo, eu tenho trabalhado junto com a ONU para ajudar a realizar a Cúpula da Juventude para o Clima, no sábado, por meio do grupo de trabalho jovem.

Eu sei que todos aqui estão prontos. Eu sei. Vocês vão parar de falar para que possamos transformar os compromissos em ação e solução? Ou vamos esperar nos encontrarmos ano que vem novamente aqui? Se eu posso pedir alguma coisa a nossos líderes eu diria que quero que todas as nações declarem emergência climática, para que isso se torne o primeiro item da agenda de todos os líderes. Minha demanda não é uma mera declaração simbólica, mas um compromisso genuíno com o meio ambiente e com os povos originários e tradicionais, que o protegeram por séculos e que ainda são oprimidos.

Eu continuarei a informar a juventude, a defender os direitos humanos e ambientais, a ouvir os jovens e os povos indígenas, para construir a agenda do clima no Brasil sem desculpas. Eu não quero ouvir desculpas aqui. Agora é a sua vez de fazer história e de tomar uma atitude urgente, para garantir um futuro seguro para todos nós. Vamos fazer isso juntos. Estamos aqui agora. É a nossa hora".    



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